Terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Uma
borboleta que entra voando na sala de aula pode ser a ideia inicial de
uma boa prática pedagógica. Mais de duas décadas depois, a professora
Ana Maria Camillo, do Centro Educacional Municipal Antônio Porto Burda,
em Fraiburgo, Santa Catarina, lembrou a lição que recebeu no magistério.
No ano passado, as borboletas amarelas que pousavam numa árvore próxima
alteraram a rotina escolar de uma turma de terceiro ano.Após visita ao mundo da leitura na biblioteca da escola, a professora e seus alunos, de 8 e 9 anos, voltavam para a sala de aula quando encontraram uma pequena lagarta. Curiosas, as crianças a levaram para a sala de aula. “Eles observaram o invertebrado e o desenharam, mas quando foram devolvê-la para a árvore, descobriram um verdadeiro laboratório”, conta Ana Maria.
A árvore no pátio da escola, florida de amarelo, abrigava outras lagartas e casulos. A professora teve então a ideia de elaborar projeto pedagógico e abordar com os alunos o tema da metamorfose. Dez lagartas foram levadas à sala de aula e passaram a viver, inicialmente, em potes de sorvete, com galhos da árvore para se alimentar e gravetos de churrasco para fixar os casulos. Os potes foram fechados com plástico comum de cozinha, com pequenos furos.
“Começamos então a integrar a metamorfose com outras atividades pedagógicas”, diz a professora, de 41 anos. As crianças leram Romeu e Julieta, de Ruth Rocha, sobre a amizade de duas borboletas, e resolveram questões matemáticas com o tema. “Fomos pesquisar na internet sobre as etapas da transformação da lagarta em borboleta, o que resultou num livro com textos curtos”, explica Ana Maria.
“Eu não conseguia encerrar o projeto porque os alunos estavam muito animados, até o dia em que conseguiram ver a metamorfose de uma lagarta em borboleta amarela, como as flores da árvore da escola”, conta a professora. Ela lembrou, emocionada, a lição na época em que era estudante do magistério. “Dou aulas há 22 anos, e esse foi um projeto muito emocionante”, revela. “Nessa prática, estão todos os meus 22 anos de professora. A lição da borboleta que entra na sala de aula e se transforma em situação didática ficou gravada em mim.”
Iniciado no começo do ano, o projeto foi encerrado com representação teatral baseada na história do livro infantil de Ruth Rocha. A metamorfose foi filmada e virou matéria de jornal na cidade, de 37 mil habitantes. “O projeto não ficou restrito à sala de aula: alunos menores e maiores de outras turmas também ficaram curiosos”, salientou a professora. “Ver as crianças se espantarem com o novo, com a pequena coisa, foi gratificante.”
Encantamento — Em seu blogue, a professora destaca frases do educador e escritor Rubem Alves. “A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose...” , diz Alves.
O autor afirma ser fácil educar a criança porque ela tem um olhar de encantamento, uma qualidade de olhar que os gregos consideravam o início do pensamento. “E isso é verdade; não precisamos de grandes projetos. Quando os alunos se encantam, você consegue ensinar a eles o que quiser”, afirma Ana Maria. “Por isso, gosto de trabalhar com projetos que unem música e teatro. Sinto que alunos ficam inteiros e dão ao professor aquela emoção de estarem interessados em aprender”, ensina. “Não é igual a uma aula puramente teórica.”
O projeto da professora foi premiado em 2012 pelo Ministério da Educação na sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, que reconhece boas práticas de ensino. O trabalho pode ser conferido no blogue que Ana Maria mantém na internet. O vídeo De Lagarta a Borboleta, postado no You Tube pela professora, mostra o borboletário criado na sala de aula.
Rovênia Amorim
Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18473:metamorfose-ajuda-professora-a-desenvolver-projeto-pedagogico&catid=222&Itemid=86
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